30.11.06

Roupa de aniversário

Quando eu era criança, minha avó materna morava conosco. Ela era costureira e passava o dia nessa função. Trabalhava muito, coitada, sempre reclamando de dores nas costas, nas pernas, mas não parava. A máquina de costura ficava no quarto dela, então, tudo de diferente e interessante acontecia lá.

Eu nunca tive talentos manuais, isso era com a minha irmã, mas eu me fascinava com as revistas de moda e as produções que ela fazia. Clientes entrando e saindo, minha avó lá, medindo, anotando, recortando, alinhavando... Com as sobras ela fazia vestidos e camisolas para nossas bonecas. À noite, hora de criança dormir, eu ficava no meu quarto ouvindo o barulho da máquina funcionando (esse barulho me acompanha até hoje quando fico em total silêncio). Ia pra lá, de pijama fazer companhia e conversar com ela. Isso acabou despertando em mim uma ilusão de que poderia cursar moda ou trabalhar numa revista de moda, mas minha vida acabou tomando outros rumos.

Bom, a cada aniversário meu, ela fazia uma roupa nova para a festa. Lembro de uma vez de, ao folhear uma revista, vi uma modelo linda usando um vestido de noiva branco, todo vaporoso. Pronto.

- Vó, eu quero esse vestido!

Ela, atarefada, esticou o pescoço pra trás, com os óculos na ponta do nariz e olhou a revista. Coitada, hoje eu imagino o que se passou na cabeça dela.

- Filha, isso é um vestido de noiva. Daria pra fazer pra sua festa de 15 anos, mas não agora.

Eu ia completar 7 anos. Não me conformei

- Mas eu quero, qual o problema? Eu quero agora, vó, vai demorar muito para eu fazer 15 anos!

Já me imaginava soprando as velinhas do bolo com aquele cabelão, cheio de cachos e flores (sim, tinha que ter enfeite no cabelo!), vestida de branco e segurando a ponta do vestido, de tão grande que seria. O mais engraçado é que na minha vida, eu nunca pensei em comemorar meus 15 anos com um baile, muito menos casar de véu e grinalda. Mas aos sete queria o tal vestido. Vai entender...

Depois de muita saliva dela, cara feia da minha mãe e choro meu, eu me conformei. Mas isso levou dias. Ela disse que faria um vestido lindo, mas não aquele. Tudo bem, acabei vasculhando outras revistas para escolher outro modelo.

Véspera da festa. A gente lá, enrolando brigadeiro e bombom de leite Ninho, colocando nas forminhas, preparando as bandejas. Mais tarde minha vó daria os arremates finais no traje do dia seguinte. Eu ansiosíssima, mal dormi. Chegou o dia da festa. Esse aniversário foi o mais marcante da minha infância. Lembro dos presentes, do bolo, dos primos, dos amigos, das brincadeiras e as músicas, foi realmente inesquecível. Tenho as fotos até hoje: em todas elas eu estava toda sorridente, banguela, com cabelos curtos tipo Joãozinho e vestindo... um macacão amarelo! Esse episódio dá uma pista de quem eu sou hoje, não?





Um comentário:

Priscilla disse...

Como assim um macacão amarelo??? Vc mudou radicalmente o estilo de roupa. kkkkk
Beijos