14.2.07

Hoje estou apocalíptica

Hoje, conversando com um amigo, também blogueiro, falávamos da violência no Brasil. Obviamente que o tema surgiu por causa do pequeno João Hélio, mas depois viajei um pouco mais e fui pensando no que temos visto pelo mundo, há anos...

O Homem tem, na sua existência, a violência como marca central. Ela sempre existiu, desde sua luta pela sobrevivência na Pré-História, como ainda ocorre no mundo animal. Lembrando: o Homem é um animal. O que o difere de um rato, de um lobo, de um abutre ou de um cachorro é a sua consciência e o exercício da ética. Não quero filosofar aqui, porque se entrar nessa onda eu perco feio, estou apenas refletindo.

Mas, o que se entende por ética?

O que faz uma mãe jogar a filha recém-nascida numa lagoa, dentro de um saco de lixo fechado? O que faz outra mãe trancafiar as três filhas num quarto escuro, convivendo com ratos, baratas e levando-as a criarem uma língua própria para se defender da própria progenitora? E aquela outra, em Macaé, que deixou a única filha viver por 10 anos trancada num quarto porque tinha necessidades especiais, convivendo com galinhas e gatos? A menina não sabia falar e agia como um bicho. Falamos do Brasil, do Rio de Janeiro, mas...

... e o que temos feito, assistido e permitido nos países esquecidos da África?

... e o que temos feito, assistido e permitido nos países do Oriente Médio - nunca esquecidos e nunca deixados em paz?

Ouvimos muitas histórias escabrosas atualmente. Mas elas sempre existiram. Basta a gente analisar os "contos de fadas". Quanta atrocidade lida em livros para pequenas crianças, há séculos! Desde quando estamos transmitindo a violência, geração em geração, por todo o mundo?

Hoje, mais um dia de chuva em Brasília (até quando?), sinto um aperto no peito. Não por causa dessa discussão toda sobre redução da maioridade penal no Brasil, ou por causa da missa de 7º dia do pequeno João, nem por causa das manchetes sensacionalistas que leio diariamente.

Meu aperto é de pensar que caminhamos por uma trilha sem volta. Não vejo mais esperança nesse mundo controlado pelo Homem.

As nossas alegrias são particulares, dentro de nossos núcleos familiares, de amigos e colegas de trabalho. Nos esforçamos para enfeitar nossas casas, enchê-las de flores, comida e conforto, queremos amar nossos filhos e, às vezes, abrigar parentes necessitados. Nunca trabalhamos para disseminar a alegria e o amor pelo vizinho, pela rua, bairro, cidade... pelo mundo, rompendo fronteiras. Parece que se espalharmos amor por aí, estaremos desperdiçando ouro e ele se perderá para sempre e nunca voltará pra nós. Assim, nos fechamos em nós mesmos e evitamos falar de nossas conquistas e alegrias com medo da inveja alheia. (e o engraçado é que é justamente ao contrário: quanto mais amor você der, mais receberá de volta)

Por isso, quando uma criança como o João perde sua vida dessa maneira, nós nos revoltamos e queremos a pena de morte instituída no país. Queremos sair armados para proteger a nós e aos nossos. E os outros, quem os protegerá de nós?

Acho que o Apocalipse, tão falado, não vai acontecer de uma vez, numa guerra nuclear ou com um choque de um grande meteorito. Nós já estamos trabalhando duro, diariamente, para acabar com o mundo. Com um pouco mais de esforço, ele acabará ainda mais rápido e pelas nossas próprias mãos.


12.2.07

Domingo

Domingo.

Quando criança, um dia muito legal, com Trapalhões, Brincando no Parque, Show de Calouros, almoço em família, brincadeiras.

Quando adolescente, um saco. Trapalhões, Sílvio Santos, almoço em família, Fantástico.

Aos vinte anos, divertido. Acordar ao meio-dia, almoçar qualquer coisa, sair para o cinema, Gate's à noite e nada de Fantástico.

Aos trinta anos, deprê. Acordar tarde, ler o jornal, pensar no que fazer durante o dia, cinema à noite e tristeza ao pensar na segunda-feira.

Aos trinta e cinco, com bebê: acordar cedo, ficar sonada, brincar, arrumar almoço do bebê, banho do bebê, soneca do bebê e depois o meu banho e o que fazer durante o dia.

O domingo de ontem marcou uma nova fase: almoço em casa de amigos com sol e piscina, muitas crianças e brincadeiras. Pés descalços, sentar no chão, comer muito e fora de hora... voltei aos tempos de domingos deliciosos, mas com gosto diferente, melhor, mais maduro.

8.2.07

Horizonte



Não dá pra vê-lo.
Hoje o dia está cinza, como ontem e anteontem, e na semana passada também.
Hoje estou contagiada por essa falta de colorido. A cor dos meus dias tá lá em casa, engatinhando pra lá e pra cá. E eu aprisionada nesse bloco de cimento. Cinza também.

7.2.07

Holofotes


Chegou o momento inevitável. Soa estranho uma publicitária temer o público, falar e expôr um trabalho ou as suas idéias. Mas o fato é que entro em pânico. Não me perguntem como eu fui atendimento até hoje, como aprovei inúmeras campanhas, com diversos clientes. Garanto que não foram meus olhos azuis.

Invejo amigos que dão aula. Como conseguem isso? Às vezes eles têm a mesma idade que eu, a mesma experiência e dão show, se realizam e ganham uma grana extra. Como ordenam o conteúdo na cabeça, a hora de falar, a hora de ouvir, a criatividade nas brincadeiras em sala de aula?

Eu quase fui reprovada numa matéria da faculdade porque, num trabalho de grupo, em que todos falavam para a turma, eu tive que concluir. Minha voz foi sumindo, sumindo, junto com o equilíbrio das minhas pernas... quase desmontei na frente de todos. Só não tiramos a nota máxima por causa do meu lamentável desempenho, classificado como "fraco". Inesquecível esse episódio.

Depois de escapar em diversas oportunidades, dessa vez terei de enfrentar o público. Não há volta, nem arrependimento, nem escapatória. Um encontro nacional, num hotel na capital do país, com pessoas do Brasil inteiro, experts em Educação e talvez com a presença do nosso ministro. E eu lá, falando modestamente de nossos projetos para 2007.

Finalmente vão descobrir que sou uma fraude! Minha fantasia de profissional exemplar, dedicada, parceira e competente vai ser rasgada em mil pedacinhos e eu ficarei nua, diante de todos. Já estou me preparando pra isso. Já que o mico será inevitável, estou preparando uma apresentação inovadora, cheia de gaiatices.Vou contratar uma claque para ficar me aplaudindo e dando gritinhos de uhu!! Circos de todo o Brasil, se preparem para receber mais uma artista medíocre!

Estou preparando vocês também, meus parcos leitores, pois pode ser que eu desapareça do mapa depois do dia 13/02.

5.2.07

O beijo


Semanas, meses até se passaram e nenhum beijo aconteceu.

Nesse tempo muitos fatos ocorreram, brigas, mal-humor, mal-entendidos, muito estresse. Cansaço, sono, noites mal-dormidas, preocupação. Em raros momentos de relaxamento, aconteciam alguns selinhos. Somente. Carinhosos, agradecidos, bonitinhos, simpáticos e até calorosos, mas bem fraternos.

Beijo na boca, daquele forte, quente, molhado, sumiu. Saiu de férias, ou melhor, de licença. Os hormônios mexeram com a sua estrutura física e emocional e o calor de outros tempos se dissiparam. Os sentimentos ficaram confusos e a fragilidade aumentou. Essa nova etapa da vida não é tão mágica. Entendam isso apenas como uma reflexão, não uma queixa.

E então, após meses de clima ameno, leve e insosso, outro tipo de beijo aconteceu. Sim, e daqueles! Forte, saudoso, apaixonado, doce, gostoso, longo... de perder o fôlego! Despretensioso e de surpresa, aconteceu dentro de uma sala de cinema, durante os traillers que antecediam o filme que seria exibido, em meio a uma conversa sobre... sabe-se lá!

Aquele papo todo, sem interesse, mas sussurrado para não atrapalhar os outros ocupantes da sala forçou um olho no olho, o cheiro do hálito, olho na boca, respiração ofegante, narizes se tocando de leve e aí o inevitável: lábio com lábio.

Apenas esse beijo trouxe de uma longa viagem todo o resto: a cumplicidade, o amor, a tolerância, a atenção, o companheirismo, a preocupação e o desejo. O calor veio de imediato, a palpitação no peito, a vontade de abraçar, de tocar, de fazer carinho, de dizer "eu te amo", de dizer "há quanto tempo!", "por onde você andava?", vontade de chorar e dizer como ele fazia falta.
Como o beijo pode ser tão banal e, ao mesmo tempo, tão essencial?