30.11.06

Espírito de Natal

Fim de ano. Já montei a árvore de Natal lá de casa. Nunca sei se fico feliz ou triste nessa época. Chove muito, os cabelos cacheados não gostam de umidade excessiva e além do quê, mesmo com 13º, a grana aperta. Sempre. Fora ainda toda a questão econômica e social mundial, a apelação comercial e o esbanjamento, que sempre nos dá um gosto amargo, uma culpa opressora por presentear amigos e familiares, cear fartamente e saber que muita gente não pode viver a mesma coisa... É lugar-comum falar disso, não é? Mas é inevitável. Tudo isso não combina com o real significado dessa data. Por isso digo que essa época desperta em mim os mais estranhos sentimentos. Junto com essa melancolia, vem também a alegria do recesso de fim de ano e as férias que se aproximam, o brilho das decorações natalinas, a magia que tudo isso desperta nas crianças... Eu, particularmente, tenho uma relação especial com o Natal, pois trabalhei por 8 anos em shopping centers. A cada ano vivia o estresse da produção da promoção de Natal, a decoração do shopping e a Chegada do Papai Noel – aliás, esse é o evento que marca o início do Natal nos shoppings até hoje. Pra tudo isso sair lindo e perfeito, a gente começava a produzir em agosto! A Chegada do Papai Noel é um capítulo à parte na minha vida, pois é o que mais me emociona nessa época. Há 30 anos eu sei que o bom velhinho não existe, que é uma figura puramente comercial. Mas não adianta, pois quando ele chega, seja de charrete, helicóptero, carro de bombeiros, a pé ou quando desce por uma falsa chaminé, não interessa: eu choro. Choro copiosamente, vergonhosamente, infantilmente. Bem, não tão infantil, pois criança nenhuma chora de alegria ao ver o Papai Noel de perto. Só gente boba como eu. E eu choro. Muito. Uma vez, fizemos uma parceria com a Unesco. Acertamos que o Renato Aragão chegaria junto com o Papai Noel, de helicóptero. Montamos um palco enorme na área externa, com um coral infantil cantando (também me emociono muito com corais natalinos). Enfim, aquela confusão, centenas de pais e filhos ao sol, seguranças fazendo cordão de isolamento, todos aguardando a tal chegada. Eu estava particularmente ansiosa, porque além do velhinho de vermelho, estava chegando o Didi!!!! Imagine! Se Os Trapalhões rechearam a minha infância inteira de alegria e diversão, qual não era meu nervosismo ao ver o Didi em carne e osso! Quando o helicóptero pousou, foi aquele frisson. Desceu aquele baixinho, de boné, vestido de prata dos pés à cabeça. As crianças ficaram loucas. Eu tive que ajudar no cordão de isolamento. Um aperto só e ele passou por mim, na minha frente, só não o toquei porque estava de mãos ocupadas no tal cordão. Eu travei. Fiquei louca. Comecei a chorar ali mesmo. As crianças saíram correndo atrás dele, todos indo para o interior do shopping, para a Praça Central. Lá, ambos, Didi (pra mim o Renato Aragão sempre será o Didi) e o Papai Noel receberiam as crianças. Quem? Papai Noel? Alguém o viu saltar do helicóptero? Somente alguns poucos atentos fiéis admiradores, pois o macacão prata do Didi ofuscou o veludo vermelho do gordo barbudo. Corri por um caminho alternativo para chegar a tempo de vê-los na Praça Central. Como funcionária, podia ficar numa escada suspensa que estava isolada para o público não invadir. Lá, só o fotógrafo do shopping, seguranças, bombeiros e a produção poderiam estar. Cheguei a tempo de ver os dois caminhando juntos, passando bem embaixo de mim. Didi me olhou, me viu aos prantos e deu uma piscadela. Eu desmontei. Sentei no chão e chorei, chorei, chorei... Pela primeira vez não foi o Papai Noel a me emocionar na sua própria chegada. Dessa vez tive pena dele, pois perdeu o trono. Adoro relembrar essa história. O primeiro Natal da minha filha será nesse ano. Ela ainda não tem idade pra entender nada, por isso não vou participar desse tumulto todo de shopping com ela. Mas, no ano que vem, é bem provável que a gente vá. E o que será que ela vai achar daquele velho gordo barbudo de vermelho? Será que também vai chorar ao vê-lo? Ou vai rir de mim quando me vir chorando?

Nenhum comentário: